Líder Tóxico? Ou criança irresponsável?
Como líder que já fui em diversas ocasiões na vida e em empresas onde trabalhei e nalgumas que criei, acredito que eu também já tive alguns comportamentos de uma líder tóxica, segundo o que se diz por aí nos posts que tenho lido sobre o que é um líder tóxico. E na realidade e como podem depois ver, o que eu estava era a ser uma criança e irresponsável.
Hoje vou dar uma nova perspetiva sobre a tal liderança tóxica, porque é que as empresas ainda permitem que hajam pessoas tóxicas e não mudam e qual é a responsabilidade de cada um de nós e dos líderes, para que comportamentos tóxicos sejam evitados. E sim, eles podem aparecer, e podem haver práticas para garantir que o adulto reconheça a sua sombra e a sua criança e se possa posicionar no lugar certo, como um adulto consciente, responsável e que quer evoluir e criar valor para si e para os colegas com quem trabalha.
Como é que eu vejo um líder tóxico?
Em primeiro lugar, quero já dizer que não acredito muito que haja líderes tóxicos e liderados que não são tóxicos.
Se eu vejo algo no outro que critico e não gosto, então eu tenho isso em mim. Eu só vibro na energia do outro, se ela estiver em mim.
E sim, pode ser desafiante ler isto, e quem já se iniciou a trabalhar a sua sombra, sabe bem do que escrevo aqui.
Todas as pessoas têm princípios de sombra e princípios brilhantes, ou de luz.
Os princípios são forças da natureza.
Princípios Brilhantes são facetas da consciência, são responsabilidade em ação.
Os Princípios de Sombra são facetas da inconsciência, da irresponsabilidade em ação.
Estas forças interagem com as nossas vidas, quer estejamos conscientes disso ou não.
Cada um de nós pode ter uma escolha sobre isso.
Que Princípios prevalecem na tua vida depende somente de ti.
Quando um líder está inconsciente da forma como interage consigo e com os outros, é bem capaz de estar a usar os seus princípios sombra, que a sua criança foi escolhendo ao longo da vida, como estratégia de sobrevivência.
E se ele próprio nem tem noção de que está a ser criança e está a usar princípios sombra, é tão importante ser a sua equipa a dar feedback e coaching sobre isso.
Ou se ele sabe conscientemente que está a usar princípios sombra e quer estar aí, então desistimos, criticamos novamente ou mesmo assim fazemos algo? É uma escolha que só tu podes fazer, para sair desse ciclo.
Eu não acredito nisso de haver líderes tóxicos, é só uma forma irresponsável que a sociedade criou de culpar o outro e não se responsabilizar pelo que pode mudar em si e nos outros.
Para mim um líder tóxico é uma criança irresponsável e inconsciente. E já vais ter mais informação abaixo do porquê estou a usar estas palavras.
Vou aqui dar o meu exemplo, pois acredito que um líder vai primeiro.
Os meus princípios sombra são:
Controle;
Crítica;
Superioridade;
Vitimização;
Manipulação.
Controlo
Eu uso o controlo para evitar sentir o medo de não saber o que vai acontecer, para evitar sentir o medo de que algo corra muito mal comigo, de ser magoada, abandonada, enganada, para que nada falhe, para que tudo seja feito com perfeição, para que eu não sinta o medo de não saber, de estar no desconhecido, pois em criança todos estes medos foram vividos com dor e sem saber que estratégias podia usar para viver, ou seja criei estas formas de sobrevivência, de controlar, para estar viva!
Crítica
Apanho-me ainda a usar a critica, pois inconscientemente acho que o mundo está contra mim e que estou numa selva e que tudo está mal. Ao criticar os outros, parece-me que eu estou bem, que há outro caminho, para me sentir segura e quando critico normalmente uso raiva e medo misturados e que são inconscientes, por isso aparece a histeria. Vejo às vezes que quando critico, é porque misturo também o querer controlar o resultado final. Ou seja, misturo raiva e medo com frequência e são inconscientes.
Superioridade
Experiencio a superioridade ao dizer como se faz, por exemplo, como se eu tivesse razão e os outros não. Dou conselhos, mesmo que não me peçam opinião porque acho que estudei algo e sei algo muito valioso para aquela pessoa.
Estou a evitar sentir a tristeza de todas as vezes em que me sinto/senti inferior em criança, porque o outro sabe mais, tem mais, é mais do que eu!
Vitimização
Uso a vitimização porque preciso de ser vista, que me deem atenção, que olhem para mim e me reconheçam. Muitas vezes até faço o papel de vítima responsável quando digo: Já fiz isto tudo e ninguém fez nada ainda! Ninguém me ajuda! Estou a evitar mais uma vez sentir a tristeza.
Manipulação
E por fim falo do uso da manipulação. Uso este princípio quando quero obter algo que me foi negado, que não é como eu quero, que não tem a ver com as minhas crenças, junto um pouco dos vários princípios sombra todos misturados, para obter o que quero.
Ou seja, estou tão desconectada com o meu sentir, que misturo raiva, medo e tristeza, para inconscientemente obter o que a criança quer. Lembro-me tão bem do meu filho Pedro, com 5 anos agora, que já usa técnica de manipulação para ter o que quer, aquele sorrisinho maroto a ver se consegue o que quer…
Agora que partilhei os meus princípios sombra, tu também deves ter os teus…e nas redes sociais não se fala normalmente deles, nem nas empresas, nem no grupo de amigos, porque queremos esconder isso.
É tão mais bonito postar nas redes sociais que somos o máximo, bonzinhos, simpáticos, que atingimos resultados, que temos empatia, que somos amigos e cuidamos dos outros, etc…
E deixo-te aqui algumas questões, para navegação interna:
– Como é que a partilha dos meus princípios sombra chegou a ti?
– Algum destes princípios também são os teus?
– Como é que vês os princípios sombra do teu líder?
– E como é que vês e aceitas os teus?
– Que trabalho de desenvolvimento pessoal estás a fazer, para conheceres os teus princípios sombra e os teus princípios brilhantes?
– Como é que podes ver o teu líder não como uma pessoa tóxica, mas sim como uma criança que precisa de amor, de ser vista, de ser reconhecida e que está a usar as estratégias de sobrevivência que teve que criar, para estar onde está?
– E tu, como pessoa que estás na equipa do teu líder, como é que o podes ajudar a estar mais nos princípios brilhantes?
– Como é que podes parar de criticar, de julgar e de usar compaixão pelo outro ser humano, como queres que também usem contigo?
E se nada funcionar, há sempre a escolha de ires encontrar o teu lugar noutro local, sabendo que a tua sombra vai atrair outras sombras e que a tua luz vai atrair outras luzes, para que o que for melhor para ti, em cada momento.
Como é que as empresas ainda permitem que haja uma cultura tóxica/irresponsável?
Acredito que cada empresa tem a sua história e tem os seus motivos para permitir que culturas tóxicas ainda existam.
E como todos sabemos, as empresas são pessoas, e basta haver uma pessoa que até pode ser o CEO com comportamentos de criança e de irresponsabilidade, para que algo precise de ser olhado e resolvido.
Da minha experiência e prática com empresas aponto alguns motivos para que ainda se mantenham culturas irresponsáveis (ao invés de tóxicas).
1 – Foco no individuo e não no coletivo
2 – Ausência de usar o corpo emocional no dia a dia
3 – Foco no corpo intelectual e físico
4 – Visão a curto prazo
5 – Querer ter razão
6 – Irresponsabilidade individual
7 – Irresponsabilidade das equipas
8 – Irresponsabilidade empresarial como um todo
9 – EGO
10 – Foco nos resultados em vez de nas pessoas
11 – Ausência de práticas de uso consciente das emoções
12 – Uso de Máscaras internas e externas
13 – Dizem que fazem e não fazem ( show off)
…
Partilho que muitos clientes meus de coaching e até clientes que faziam consultas de psicologia pagas pelas empresas me diziam que as empresas pagavam formações, consultas, mas que o que havia para mudar, não mudava, a cultura era a mesma, não se podia falar abertamente de sentimentos, continuava o medo e o foco nos resultados. Diziam muitas vezes que era só para publicar mais uns posts bonitos nas redes sociais e estarem bem na figura, mas quem estava lá dentro continuava a sentir burnout, falta de confiança no líder, e a sentir-se mais um número, etc, etc…
E há ainda mais motivos, se estás a ler este texto acredito que na tua empresa possam haver ainda mais motivos para se estar numa cultura irresponsável.
E tu podes iniciar a mudança, deixando de ser a criança com medo inconsciente e empoderando-te para mudar-te a ti e aos outros, como adulto que és ou que pretendes ser.
Como podes ser responsável e mudar a cultura da tua empresa?
Há várias formas e eu vou dar algumas dicas. Acredito que tu, sabes qual é a tua forma e se ainda não souberes, eu estou por aqui, para te ajudar nessa descoberta.
Qualquer que seja a escolha que faças, não pode deixar de ser radicalmente responsável.
Responsabilidade Radical Consciente é tu reconheceres o teu SER Responsável Radical pelas Escolhas que fazes… e como já vimos acima, elas podem ser escolhas conscientes e escolhas inconscientes.
Quando uma Criança faz um disparate, quem é que limpa? Os adultos limpam. A Cultura Moderna está ao nível de responsabilidade de criança porque a cultura moderna faz disparates horríveis sem intenção de os limpar (por exemplo, resíduos nucleares, crianças a tomar drogas cerebrais, desflorestamento, gases de estufa, pico do petróleo, escassez de peixe, estilos de vida insustentáveis, foco no dinheiro e não no propósito, etc.). Experiências na criação de novas culturas sustentáveis estão a começar a ficar mais numerosas e poderosas. Podes ligar-te a outras pessoas com interesses idênticos e fazer trocas com elas, num compromisso de prática para o bem da empresa. Se tu fizeres a tua parte, tratando das tarefas que surgirem, a emergência da nova cultura é auto-organizada.
Exemplos de coisas práticas que podes começar a fazer contigo e com a tua equipa.
1 – Check in emocional no início de cada reunião;
2 – Pedir espaços de escuta, para partilhares o que não está a funcionar para ti, naquele dia, naquele projeto, com aquela pessoa, com aquela atitude, com aquele prazo apertado, etc;
3 – Dar e pedir feedback diário sobre o que funciona e não funciona com a equipa;
4 – Fazeres treinos e convidares a tua equipa a fazer a seguir sobre algumas destas possibilidades: Empoderamento pelas emoções conscientes, liderança consciente, comunicação, feedback e coaching, responsabilidade, princípios sombra e princípios brilhantes, …
5 – Criar momentos para aprendizagem em conjunto e partilha de práticas que funcionem em equipa
6 – Conheceres os teus princípios sombra e brilhantes da tua equipa
7 – Criar relações extraordinárias com todas as pessoas com quem trabalhas
8 – Cria tu um primeiro manual de boas práticas e de como todos podem criar a cultura que sirva para todos e partilha-a para que possam ter um documento final, co-criado com a energia brilhante de todos
E fico a aguardar que me ligues a contar como tudo isto foi para ti, quer seja para me dizeres o que achaste do artigo ou para contar as experiências que estás a criar contigo e na tua empresa.
E sim eu estou disponível para facilitar algum processo para ti e para a tua equipa, se achares que posso ser útil.
Estou aqui
Evolução, Transformação, Cura, Amor, Compromisso
Isto é tudo muito giro, mas sejamos sinceros: funciona em Portugal?! Se já fui acusada de ser muito sensível (não sou mais do que muitos e sou menos do que outros) quando o que eu mais detesto é monólogos aos berros (ainda por cima), não estou a ver ninguém a deixar pôr seja o que fôr disto em prática. Bastava ouvirem os colaboradores. Bastava a maioria dos colegas não sabotar os outros que não fazem parte de grupos. Bastava todos serem menos infantis. A coisa rolava como uma equipa verdadeira deveria funcionar.
Eu acredito que sim, que em Portugal e no mundo se pode mudar, se pode ser mais consciente e se evoluir para uma cultura mais humanizada. Os líderes são os que vão primeiro e para se ser esse líder, basta ser-se líder de si mesmo e de se focar no que realmente importa. Ou seja, mesmo que não seja um líder no papel, pode ser um líder no coração e isso mudar vidas e a culta da sociedade e das empresas.